Hormônios: inimigos ou aliados?

Os hormônios são essenciais para a saúde e o bom funcionamento do organismo. Mas a falta ou o excesso de um determinado hormônio pode causar problemas de saúde. Saiba mais.

Hormônios são vistos como inimigos por muitos, que logo associam as “bombas” de academia, usadas de maneira irresponsável para aumento muscular, ou então o hormônio da tireoide, algo que dificulta o emagrecimento ou a melhora da qualidade de vida.
Pois a verdade é que os hormônios regulam uma vasta gama de processos no corpo. Eles são nada mais que sinalizadores. São eles quem levam as informações corretas para nossas células entenderem o que é que o corpo está pedindo.
Hormônios são substâncias químicas liberadas na corrente sanguínea e que atuam como sinalizadores celulares regulando inúmeros processos fisiológicos, tais como crescimento de tecidos, metabolismo energético, manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico, resposta imune e ao estresse, sono e vigília, desenvolvimento das características sexuais masculinas e femininas, reprodução, e muitas outros sistemas de regulação do nosso organismo.
Nosso organismo já produz essas substâncias, os chamados hormônios endógenos, que são produzidos naturalmente pelo corpo. Em casos específicos, pode haver necessidade de ministrar hormônios, chamados de exógenos, que são introduzidos no organismo através de fontes externas, como medicamentos.
Entretanto, o uso de hormônios sem orientação médica pode afetar o equilíbrio do seu corpo e gerar complicações graves, como problemas hepáticos, distúrbios cardíacos e até infertilidade.
Ao contrário do que muitos imaginam, os hormônios não são “remédios mágicos” que podem ser consumidos para satisfazer determinadas expectativas (boa parte delas apenas estéticas) e sua utilização deve ser prescrita e monitorada por um médico especialista.
Exemplos disso é que muitas mulheres tomam anticoncepcionais sem saber que estão tomando hormônios, pacientes que não percebem a dificuldade causada pela Insulina no emagrecimento ou esquecem da importância que a Testosterona tem na saúde do homem e também na da mulher.

Mulheres na menopausa sofrem pela queda de hormônios e passam a apresentar fogachos (sensação de calor intenso), insônia, irritabilidade e outros sintomas, resultantes da ausência de hormônios específicos que suprimem essa sinalização dentro do corpo feminino.
Em resposta a estímulos específicos, como a ingestão alimentos e alterações em nossos batimentos cardíacos, os hormônios (endógenos nestes casos) são produzidos e liberados por glândulas que compõem o nosso sistema endócrino, incluindo o hipotálamo, a hipófise, a tireoide, as adrenais, o pâncreas e as gônadas (testículos nos homens e ovários nas mulheres).
Além destas glândulas, outros órgãos e tecidos também secretam hormônios que contribuem para a equilíbrio e funcionamento adequado do organismo.
Os rins, por exemplo, produzem os hormônios que auxiliam no controle da pressão arterial e produção de glóbulos vermelhos na medula óssea.
Diferentes órgãos do sistema digestivo e até mesmo o tecido adiposo também produzem e secretam hormônios envolvidos na digestão, na regulação da fome, da saciedade e do comportamento alimentar.
De maneira geral, independentemente do local onde são produzidos, os hormônios são liberados na corrente sanguínea e, a partir daí, são direcionados até as chamadas células-alvo. Estas células possuem receptores específicos para determinados hormônios, que quando ativados irão desencadear efeitos biológicos variados.
No total, mais de 50 hormônios endógenos distintos já foram identificados no organismo humano. De acordo com suas características estruturais e químicas, estes hormônios podem ser classificados como esteroides, peptídeos ou aminas derivadas de aminoácidos.
Através de mecanismos específicos, os hormônios modificam o funcionamento de todo o organismo. Muitas vezes, dois ou mais hormônio estão envolvidos no controle de um mesmo processo biológico.
É o que acontece, por exemplo, diante de situações de perigo ou ameaça potencial. A liberação de dois hormônios (as catecolaminas adrenalina e noradrenalina) prepara o organismo para reagir, fazendo com que o coração acelere, a frequência respiratória aumente e as pupilas se dilatem.
Estas respostas fisiológicas (conhecidas como respostas de luta ou fuga) aumentam o aporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos, melhoram a atenção, a concentração e a tomada de decisões, além de tornar o reflexo mais rápido, o que aumenta as chances de sobrevivência do indivíduo diante de uma situação desafiadora.
Tendo em vista que os hormônios influenciam praticamente todos os processos fisiológicos, tanto em homens quanto em mulheres, um desequilíbrio hormonal – seja em decorrência do processo fisiológico de envelhecimento ou em condições patológicas – exerce um grande impacto sobre todo o organismo, e pode resultar em alterações no humor, fadiga, depressão, problemas para dormir, dificuldade no gerenciamento do peso corporal, alteração no desejo sexual, redução da densidade mineral óssea, entre muitas outros.
Neste contexto, inúmeros estudos já demonstraram que terapias de reposição hormonal (com os hormônios exógenos) podem ser utilizadas para restaurar os níveis hormonais, promovendo diversos benefícios ao organismo.
Entretanto, é importante ressaltar que é essencial que seja feita uma avaliação clínica e laboratorial dos indivíduos que serão submetidos a qualquer tratamento hormonal, bem como o acompanhamento adequado pelo profissional de saúde que prescreveu o tratamento.

Atualmente, a situação de uso de hormônios sem indicação médica que mais preocupa os profissionais de saúde é sua utilização com fins unicamente estéticos ou de performance esportiva (os anabolizantes).
A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) alerta que o uso, sem acompanhamento médico, de testosterona – comumente chamada de anabolizante – pode ser perigoso e causar danos irreparáveis no corpo humano (veja no quadro).
O uso da substância tornou-se um grande problema de saúde pública e os casos de complicações estão cada vez mais frequentes.
Ainda pela análise da entidade, o uso em doses acima do normal pode levar a malefícios no futuro, como alterações cerebrais, comportamentais, agressividade e infertilidade.
O uso do hormônio testosterona, sem indicação médica, além de ser ilegal, pode levar a problemas tanto em homens como em mulheres, mas nas pessoas do sexo feminino, os problemas podem ser maiores.
Segundo o acompanhamento da Sbem, as mulheres já são mais da metade dos usuários no Brasil.
Outro alerta é em relação aos implantes hormonais para fins estéticos e de desempenho (que ficaram conhecidos como “chips da beleza”), que também podem ser prejudiciais à saúde, além de não haver comprovação da sua segurança e eficácia para essas finalidades.
O “chip da beleza” é uma expressão popular usada para se referir a implantes hormonais que são inseridos no corpo com a promessa de melhorar a aparência física, aumentar o desempenho físico e tratar sintomas como fadiga ou menopausa.
Preocupados com o aumento na oferta destes “chips”, a Anvisa publicou no final do ano de 2024 uma Resolução com a suspensão da manipulação, comercialização, propaganda e uso de implantes hormonais manipulados, ou seja, feitos em farmácias de manipulação.
Essa medida foi em atenção a denúncias apresentadas por entidades médicas que identificaram um crescimento no atendimento a pacientes com problemas ocasionados pelo uso desses implantes que misturam diversos hormônios, inclusive com substâncias que não possuem avaliação de segurança para essa forma de uso.
A medida não afeta os implantes hormonais registrados na Anvisa e, de acordo com a regulamentação, somente produtos que tenham sua avaliação de segurança e eficácia podem ser manipulados.

Essa avaliação é feita pela Anvisa quando alguma empresa solicita o registo de um medicamento e apresenta os dados clínicos do estudo.
Entre as principais complicações observadas em pacientes que fazem uso desses implantes manipulados estão: elevação do colesterol e de triglicerídeos no sangue (dislipidemia), hipertensão arterial, acidente vascular cerebral e arritmia cardíaca.
Além disso, também pode ocorrer crescimento excessivo de pelos em mulheres (hirsutismo), queda de cabelo (alopecia), acnes, alteração na voz (disfonia), insônia e agitação.
Por fim, é importante saber que os hormônios fazem parte da nossa saúde e não há razão para ter medo. Eles fazem parte do bom funcionamento do nosso corpo e, desde que sua utilização seja criteriosa e orientada por um profissional de saúde, podem ser utilizados como tratamentos em casos específicos.
Entretanto, assim como outros medicamentos e substâncias usadas no combate a doenças, consultas regulares e exames são essenciais para garantir que seu uso seja seguro e ajude a recuperar a saúde.